Diogo de Azambuja nasceu em Montemor-o-Velho por volta de 1432 e aqui faleceu em 1518, tendo sido sepultado na capela-mor da Igreja do Convento dos Anjos, cuja construção custeou.
Desde a juventude que acompanhou o pai no serviço de fidalgos, tendo estado nas hostes de D. Pedro no recontro de Alfarrobeira; depois de um exílio no estrangeiro, volta a Portugal para acompanhar o rei D. Afonso V na batalha de Alcácer Ceguer. Devido aos inúmeros serviços prestados é admitido no Conselho do Rei e agraciado com as Comendas de Cabeço de Vide e Alter Pedroso, e com a Ordem de Avis.
Em 1481 o rei D. João II confia-lhe o comando geral da expedição enviada para o golfo da Mina e com a incumbência de aí construir uma fortificação onde se transaccionasse o ouro, a malagueta e mesmo escravos. Ainda no reinado de D. João II foi nomeado vedor-mor dos armazéns do Reino e no reinado de D. Manuel I construiu no Norte de África as fortalezas de Mogador e Safim, tendo sido governador desta última.
Fernão Mendes Pinto (Montemor-o-Velho, c. 1510 – Almada, 1583)
‘Fernão,mentes?Minto.’ Foi este trocadilho jocoso que fez passar de geração em geração o nome do autorda Peregrinação, obra que ainda antes da sua publicação gerou grande curiosidadee polémica em torno da veracidade das aventuras contadas.
Pelas informações contidas no seu relato, sabemos que Fernão Mendes Pinto nasce e vive em Montemor-o-Velho até à idade de dez ou doze anos, “na miséria e estreiteza da pobre casa” de seu pai, partindo para Lisboa em finais de 1521.
Os trabalhos e os infortúnios continuam a persegui-lo até que embarca para a Índia em 11 de Março de 1537 com o propósito de enriquecer. Nos cerca de vinte e um anos que permanece nas partes orientais, viaja intensamente entre a Índia e a China, dizendo-se um dos primeiros ocidentais a chegar ao Japão.
Foi mercador, soldado, embaixador, homem de Deus, mas também salteador, curandeiro e muitas vezes cativo.
Regressa a Lisboa em 22 de Setembro de 1558, trazendo como maior fortuna as cartas de recomendação pelos serviços prestados à pátria. Depois de quatro anos de infrutíferos requerimentos à Coroa, recolhe-se na quinta de Palença, no sítio do Pragal, em Almada, onde terá coligido as memórias que constituem a Peregrinação.
Poucos meses antes da sua morte, em 8 de Julho de 1583, recebe do rei Filipe III a tão ambicionada tença pelos serviços prestados no Oriente.
No ano de 1614, publicava-se em Lisboa a volumosa obra que Fernão Mendes Pinto deixara manuscrita, com todas as licenças necessárias e dedicatória do editor à católica majestade real, Filipe II de Portugal, revertendo os resultados das vendas a favor da Casa Pia das Penitentes de Lisboa. Ao longo de séculos, muitas conjecturas foram desenvolvidas sobre o lapso de tempo que medeia entre a morte do autor, em 1583, e a publicação, sendo corrente a ideia de que terá havido censura ou alteração de alguns episódios. Estas razões acrescidas da polémica sobre as fantasias da obra, justificam as cinco escassas edições portuguesas até às primeiras décadas do século XIX. A obra alcança, contudo, um sucesso ímpar na Europa sendo conhecidas 18 versões seiscentistas nas principais línguas, o que confirma o apreço de um público que lia este relato como romance de aventuras ao gosto da época. Os próprios títulos das traduções revelam o pouco crédito atribuído pelos tradutores ao relato autobiográfico. São exemplo as versões em francês, alemão e holandês que substituem o título porque ficou conhecida em Portugal, Peregrinação, por Viagem Aventurosa ou Viagem Maravilhosa.
Ana Paula Laborinho (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Bibliografia: ÁGUAS, Neves, “ Peregrinação Leitura actualizada, introdução e anotações”, 1.º e 2.º volume, Edição comemorativa do 4.º centenário da morte de Fernão Mendes Pinto, Publicações Europa-América; ALMEIDA, Fernando António, “Fernão Mendes Pinto Um Aventureiro Português no Extremo Oriente”, Câmara Municipal de Almada, 1.ª Edição, 2006; ARMADA, Fina, “Mulheres Navegantes no tempo de Vasco da Gama”, Esquilo Edições, 1.ª Edição, 2006; CASTRO, Aníbal Pinto de, “De Montemor-o-Velho às Ilhas do Japão: A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e o Encontro de Culturas”,Comissão de Coordenação da Região Centro, Coimbra, 1993; CATZ, Rebecca , “A sátira social de Fernão Mendes Pinto Análise critica da PEREGRINAÇÃO”, Prelo Editora, 1978; CATZ, Rebecca, “Fernão Mendes Pinto – Sátira e anti-cruzada na Peregrinação”, Biblioteca Breve, Volume 57, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1981; CORREIA, João David Pinto, “A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, Apresentação crítica, selecção, resumos, glossário e sugestões para análise literária”, Seara Nova, 1979; COSTA, Hélder, “Fernão Mentes ?, Versão livre da Peregrinação”, Textos A Barraca, Lisboa, 1982; DOMINGUES, Mário, “Fernão Mendes Pinto”, Livraria Civilização, 4.ª Edição, 1973; LAPA, Rodrigues, “Peregrinação, Fernão Mendes Pinto Selecção, prefácio e notas”, Livraria Sá da Costa Editora, 6.ª Edição, 1979; LIMA, José da Silva, “A Peregrinação, Percursos e Palavra”, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1.ª Edição, 2007; LOPES, Graça Videira, “Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores e Jograis Galego-Portugueses”, Edição de Graça Videira Lopes, Editorial Estampa, 1.ª Edição, 2002; MONTEIRO, Adolfo Casais, “Páginas da Peregrinação”, Fernão Mendes Pinto, Texto fixado, prefaciado e seleccionado por Adolfo Casais Monteiro, Editorial Verbo, 1972; RIBEIRO, Aquilino, “Peregrinação de Fernão Mendes Pinto”, Livraria Sá da Costa Editora, 13.ª Edição, 1997; SIMÕES, Manuel, “A Literatura de Viagens nos Séculos XVI e XVII Apresentação critica, selecção e fixação do texto, notas e sugestões para análise literária”, Editorial Comunicação, 1.ª Edição, 1985.
Jorge de Montemor nasceu em Montemor-o-Velho em 1520/24 e morreu em Piemonte em 1561. Músico e poeta, frequentou a corte espanhola e manteve contactos com poetas castelhanos.
O Cancioneiro foi a sua primeira publicação de vulto, dedicado a D. João e D. Joana - pais de D. Sebastião.
A sua obra Diana é um dos expoentes da novela pastoril e só no século XVI teve dezassete edições. Escrita em castelhano, é, segundo Afonso Lopes Vieira, "castelhana por fora mas portuguesíssima por dentro".
António Correia da Fonseca e Andrade (1648-1717)
Filho do capitão Domingos Correia da Fonseca de Maria de Melo da Fonseca de Andrade, António Correia da Fonseca e Andrade nasceu na Vila de Montemor-o-Velho, freguesia de São Martinho, a 15 de Junho de 1648.
Em 1686, casa, “na Quinta de Terronha distante hua legoa de Vizeu”, com Joana de Castelo Branco e Vasconcelos de quem teve numerosa descendência.
De António Correia da Fonseca e Andrade, sabemos que depois de passar a infância e adolescência nesta vila, parte em 1665, com apenas dezassete anos, para a Universidade de Coimbra, dedicando-se de imediato ao estudo dos preceitos contidos no “Corpus Iuris Civilis”. Deste modo, e na linha da educação que recebera durante a infância e a adolescência, toda a sua vivência escolar seria profundamente marcada pelo império do “princípio de autoridade” e das autoridades.
Concluída a formatura, em 11 de Julho de 1672, decide trocar uma expectável e promitente carreira de letrado pela sempre perigosa vida militar. Alguns anos depois, em 1679 e já como cavaleiro professo do Hábito da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, é eleito procurador de concelho de Montemor-o-Velho, “por ser das principaes pessoas daquella nobre villa”, às Cortes que se celebraram na cidade de Lisboa, a 27 de Novembro.
Na década de 1690, a sua ascensão política e militar consolidar-se-á, com a eleição, em 1691, para o lugar de vereador, facto que se viria a repetir nos anos de 1705 e 1715, e, a 29 de Junho, para o cargo de capitão-mor da vila e termo de Montemor-o-Velho. Contudo, “por se observar differente estillo no provimento deste posto” o Conselho de Guerra mandou repetir a eleição, a qual, agora contra sete “oppozitores”, voltaria a vencer.
A 18 de Janeiro de 1692, por resolução régia de 12 de Janeiro em consulta de 25 de Setembro de 1691, Dom Pedro II nomeia-o, por carta patente, capitão-mor da vila e termo de Montemor-o-Velho, que compreendia todos os coutos do Bispo Conde, Cabido e Universidade de Coimbra em que esta vila tinha a jurisdição crime.
Ainda em 1692, é nomeado, por provisão régia de 12 de Junho e à semelhança do que sucedera com seu pai em 13 de Novembro de 1691, juiz das valas desta vila, enquanto durasse o impedimento, por motivo de doença, do serventuário do ofício, Filipe da Fonseca Coutinho, e a ausência do proprietário do mesmo, Tomé Chichorro Pinheiro.
Após a morte de seu pai, em 1692, assume o senhorio da Casa Redonda revelando, na linha do que os “Fonsecas e Andrades” vinham fazendo desde meados desse mesmo século e continuariam a praticar até ao dealbar do século XIX, uma preocupação crescente com os mais desfavorecidos, ao participar da acção caritativa praticada pelos dois grandes baluartes do movimento assistencial nesta vila: a Confraria de Nossa Senhora de Campos, onde desempenhou as funções de regedor (1683-1684 e 1704-1705), e a Santa Casa da Misericórdia, de que foi provedor (1693-1694; 1694-1695, substituindo, na forma do compromisso, o provedor anterior que entretanto falecera, Tomé Chichorro Pinheiro; e 1709-1711) e escrivão (1692-1693).
De entre as suas obras, podemos destacar: Memórias Genealógicas, escritas em 1694, com 53 árvores genealógicas da sua família, original inédito, que pertenceu à biblioteca do seu quinto neto, Dom João de Alarcão Velasques Sarmento Osório; “Famílias do Reino de Portugal”, manuscrito in-fólio em 10 volumes; “Historia Manlianense, Cronologica, Epithomatica, Bellica, Geneologica e Panegirica, na qual a curiozidade descifra successos que admiram, progressos que assombram e dezenganos que aproveitam. Offerecida a Virgem Santissima da Victoria Nossa Senhora e a seu esclarecido Monarca Portuguez Dom Joam 5.º N. S.”, datada de 1713-1715 e que trata diversos assuntos, por vezes fantasiados, sobre a fundação e história da vila de Montemor-o-Velho. Há autores que referem ainda uma outra obra, intitulada “Memórias”, escrita na mesma altura, em que o autor trata das antiguidades e coisas notáveis de Montemor-o-Velho.
A 29 de Agosto de 1717, morre na mesma casa que o vira nascer 69 anos antes, sendo sepultado, no dia seguinte, no jazigo de família, na Igreja de Santa Maria de Alcáçova.
Mário José Costa da Silva (Licenciado em História e Mestre em História Moderna pela Universidade de Coimbra)
Bibliografia: ANDRADE, António Correia da Fonseca e, Historia Manlianense, Cronologica, Epithomatica, Bellica, Geneologica e Panegirica, na qual a curiozidade descifra successos que admiram, progressos que assombram e dezenganos que aproveitam. Offerecida a Virgem Santissima da Victoria Nossa Senhora e a seu esclarecido Monarca Portuguez Dom Joam 5.º N. S., 1713-1715; Livro de Receitas e Despesas da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho: 1659-1700; 1701-1752; Livro de Registo de Provisões, Cartas e Alvarás Régios: 1682-1695; 1696-1718; Livro de Vereações da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho: 1681-1690; 1690-1693; 1693-1698; 1714-1726; Livro de Defuntos da Santa Casa: 1618-1728; Livro de Eleições da Confraria de Nossa Senhora de Campos: 1636-1703 e 1704-1792; Livro de Eleições da Santa Casa da Misericórdia: 1704-1778; Informações Paroquiais de Montemor-o-Velho: Salvador (1721); Registos Paroquiais de Montemor-o-Velho: S. Martinho (1573-1669 e 1667-1793) e Santa Maria de Alcáçova (1547-1729); CANEDO, Fernando de Castro da Silva, A Descendência Portuguesa de El-Rei D. João II, vol. II, 2.ª ed., Braga, Fernando Santos e Rodrigo Faria de Castro, 1993; GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, vols. I, XII, XV e XIX, Braga, Agostinho de Azevedo Meireles e Domingos de Araújo Afonso, 1938-1942; GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, vols. IV, V, e XII, 2.ª ed., Braga, Edições Carvalhos de Basto, 1989; MACHADO, Diogo Barbosa, Bibliotheca Lusitana, tomo I, Lisboa Occidental, Na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca, 1741; SOUSA, António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo I, nova edição de Manuel Lopes de Almeida e César Pegado, Coimbra, Atlântida, 1946; CONCEIÇÃO, Augusto dos Santos, Terras de Montemor-o-Velho, 2.ª ed., Montemor-o-Velho, CMMV, 1992; SILVA, Mário José Costa da Silva, A Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho. Espaço de Sociabilidade, Poder e Conflito (1546-1803), Montemor-o-Velho, CMMV, 1999; LOURENÇO, Maria Paula Marçal, D. Pedro II. O Pacífico (1648-1706), Lisboa, Círculo de Leitores, 2007.
Francisco de Pina e Melo (Montemor-o-Velho, 1695 - Montemor-o-Velho, 1773)
Francisco de Pina e Melo, conhecido nas lides literárias como corvo do Mondego, nasceu a 7 de Agosto de 1695, na vila de Montemor-o-Velho. Aí passou a maior parte da vida, saiu apenas para frequentar a Universidade de Coimbra, por duas vezes, para curtas viagens ao estrangeiro e para breves visitas à cidade do Mondego e a Lisboa para acompanhar a publicação das suas obras, visitar amigos ou recolher bibliografia que avidamente devorava na pacatez dos serões de Montemor.
Recorda sempre, nos frontispícios das suas obras, a sua condição de Moço Fidalgo da Casa de Sua Majestade Fidelíssima. Poucas vezes, apesar disso, aproveitou o seu estatuto de cortesão, pois raramente frequentava a corte.
Da sua formação científica, sabemos que não foi um estudante exemplar. Frequentou os cursos de Filosofia e Canônes na Universidade de Coimbra em duas ocasiões diferentes, sem, no entanto, ter concluído nenhum deles. Isso não o impediu de adquirir uma cultura notável em quase todos os ramos do saber, graças a uma leitura incessante e a um estudo diligente.
Todos os críticos salientam a erudição de Pina e Melo. Os primeiros são os censores das suas obras: “Em fim depois, que por ordem desse rectíssimo tribunal tenho examinado vários escritos do Autor em muito diversas matérias, com este venho a concluir que Francisco de Pina e Melo é um homem enciclopédico” – afirma Fr. Bernardino de S. Rosa, reitor do Real Colégio de S. Tomás da Universidade de Coimbra, no parecer que assina como censor do Juízo sobre o terremoto. Analisando a Balança Intellectual (obra publicada em 1752, em que Pina e Melo faz um comentário ao Verdadeiro Método de Estudar, apontando, carta a carta, defeitos e qualidades à obra de Verney), António Ferrão demonstra que o nosso autor domina a literatura e a filosofia da Antiguidade Clássica, conhece as obras renascentistas e as dos séculos XVII e XVIII, portuguesas e estrangeiras, em especial francesas, estuda teologia, história da igreja, história política e literária. Esta erudição do poeta de Montemor é confirmada com a análise de quase todas as suas obras.
Notáveis são também os seus conhecimentos sobre poética, retórica e línguas: cita com frequência em Latim, escreve em Castelhano, traduz, do Francês, a tragédia Édipo Rei de Sófocles. Desta língua, em carta a Ribeiro Sanches, afirma: “Eu entendo o que basta para a inteligência das cartas e dos livros”. Sabemos que possuía ainda alguns conhecimentos do Grego e do Hebraico.
Manteve uma relação epistolar assídua, que hoje podemos apreciar, com várias personalidades destacadas da época como os iluminados Verney e Ribeiro Sanches, os árcades Manuel de Figueiredo e José Xavier Valadares e Sousa e até com o Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, para citar apenas os mais conhecidos.
O poeta de Montemor é considerado um autor de transição do Barroco para o Neoclassicismo, sem, contudo, se ter libertado completamente do seu substrato barroco.
A obra de Pina e Melo é vasta e multifacetada. A condição de fidalgo desafogado permitia-lhe dedicar-se quase exclusivamente a actividades literárias e publicar a expensas próprias grande parte dos seus escritos, dispensando a figura, por vezes coerciva, de um mecenas. Pode dividir-se em poética, crítica, polemista, moralista e teorética.
Entre variadíssimas obras poéticas, a maioria de circunstância como epitalâmios, genetlíacos ou epicédios, destacamos as “Rimas”, “A Bucólica”, “Ao terremoto do 1º de Novembro de 1755”, o “Triumpho da religião” e “A Conquista de Goa”.
Ao nível da crítica, destacamos “Balança Intellectual”, as cartas a Ribeiro Sanches e o “Discurso sobre o estado em que hoje se acham as religiões no reino de Portugal, e do proveito ou prejuízo que a sua economia interior e exterior pode causar á republica. A ELrei nosso Senhor”.
Pina e Melo foi envolvido em várias polémicas e nunca se eximiu a expor a sua opinião. Assim, participou no debate sobre o estado da cultura e do ensino levantado pelo “Verdadeiro Método de Estudar”, na questão da expulsão dos Jesuítas e nas lutas literárias geradas com o aparecimento da Arcádia Lusitana. Por várias vezes, foi obrigado a defender as suas obras de críticas viperinas como as de José Xavier de Valadares e Sousa ao poema “Conquista de Goa” e as de José Jacinto Nunes de Melo ao poema “Triumpho da Religião”.
Como homem muito culto e muito cristão que era, defendia que todas as atitudes da vida se deviam regrar pela moral católica. Por isso, em toda a obra canta a virtude, o bem, o amor sincero e honesto, a caridade, o amor ao trabalho. Um exemplo claro pode encontrar-se nas obras inspiradas no grande terramoto de Lisboa.
Pina e Melo dedicou os últimos anos à teorização poética e retórica. Desse labor resultaram a publicação “Arte Poética” e do “Theatro da Eloquência”. Antes dessas duas obras, já o autor expusera, de forma dispersa, algumas considerações sobre estes assuntos. Vimos já como no prólogo da “Bucólica” expôs a sua teoria sobre esse género poético. Na primeira parte do “Prolegómeno” que antepõe ao seu poema “Triumpho da Religião”, apresenta as suas opiniões sobre a poesia e constrói uma teoria da epopeia. Sobre este género, fornece também informações no prólogo da “Conquista de Goa”.
A fama de que Francisco de Pina e Melo gozou em vida foi tão grande como o esquecimento a que depois foi votado. Para referir o esquecimento, quaisquer explanações seriam desnecessárias, basta dizer que ele tem tanta grandeza como de injustiça.
Faleceu também em Montemor com 78 anos, em 22 de Outubro de 1773. Muito provavelmente, encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, na Capela da “Deposição” ou da “Piedade” à direita de quem entra, local onde se encontram muitos dos membros da sua família e onde se destaca o túmulo do seu antepassado Fernão de Pina.
António Manuel Esteves Joaquim (Licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas)
Bibliografia: BRAGA, Teófilo, “A Arcádia Lusitana”, Porto, Livraria Chardron, 1899, pp. 288 – 308; BRAGA, Teófilo, “História da Literatura Portuguesa”, Volume IV, “Os árcades”, Publicações Europa América; CASTRO, Aníbal Pinto de, “Alguns aspectos da teorização poética no Neoclassicismo português”, Braga, 1974; CASTRO, Aníbal Pinto de, “Retórica e teorização literária em Portugal”, Coimbra, Centro de Estudos Românicos, 1973, pp. 496-504 e 641-660; CIDADE, Hernâni, “Lições de cultura e literatura portuguesas”, 2.º volume, “Da reacção contra o formalismo seiscentista ao advento do Romantismo”, 7.ª Edição, Coimbra, Coimbra Editora, pp. 262-268; COELHO, Jacinto do Prado, “A Musa Negra de Pina e Melo e as origens do Pré-Romantismo português”, Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classes de Letras, Tomo VII, 1959; COELHO, Jacinto do Prado, “Poetas Pré-Romanticos”, Coimbra, Atlântida Editora, 1961; FERRÃO, António, “O Poeta e erudito Francisco de Pina e Melo”, in Academia das Ciências de Lisboa, Boletim da segunda classe, volume XX, 2.ª Parte; MACHADO, Diogo Barbosa, “Biblioteca Lusitana”, 3.ª Edição, Coimbra, Atlântida Editora, 1966, Tomo II, pp. 221 – 222; SILVA, Inocêncio Francisco da, “Dicionário Bibliográphico Portuguez”, Lisboa Imprensa Nacional, 1858 – 1923, Tomo III, pp. 33-36 e Tomo IX, pp. 3614 - 362; SILVA, Vítor M. Aguiar e, “Teoria da Literatura”, Coimbra, Almedina, 8.ª Edição, 1988; SILVA, Vítor M. Aguiar e, “Para uma interpretação do Classicismo”, Separata da “Revista de História Literária de Portugal”, Volume 1, Coimbra, p. 142.
Manuel de Macedo (Verride, 1839 – Lisboa, 1915)
Manuel Maria de Macedo Pereira Coutinho Vasques da Cunha Portugal e Menezes, 8º Morgado do Cardal, nasceu em Verride, concelho de Montemor-o-Velho, em 1 de Maio de 1839 e faleceu em Lisboa, em 20 de Outubro de 1915.
Filho de um Par do Reino, viveu a sua infância em Verride, na Quinta do Cardal, da qual restam praticamente ruínas.
Para a história da arte e, mais concretamente, da ilustração no séc. XIX português, o nome deste 8º Morgado do Cardal reduz-se a duas palavras: Manuel de Macedo. Ou ainda MMacedo, modo como assina a maior parte da sua vastíssima obra.
Autor multifacetado, Manuel de Macedo começou cedo a fazer desenhos de trajes tradicionais portugueses, chegando a editar o Albúm de Costumes Portugueses, em 1888, em conjunto com artistas como Rafael Bordalo Pinheiro e Roque Gameiro (seus discípulos). Apresentou-se por diversas vezes com obras às exposições da Sociedade Promotora de Belas-Artes, tendo sido premiado. Desenhou cenas de côrte para uma edição de Os Lusíadas, de 1900. Foi cenógrafo de vários teatros de Lisboa, desde 1864 até 1883. Foi ainda aguarelista e caricaturista da sociedade burguesa lisboeta. Traduziu alguns romances (de autores ingleses e alemães) e ilustrou muitos outros. Crítico social e literário, escreveu sob pseudónimos, dos quais se destacam O Spectator e Pin-sel. Colaborou com a Biblioteca do Povo e das Escolas, com quatro volumes relativos ao ensino artístico e ao restauro de pintura e gravura. As suas ilustrações figuram nos poucos números da revista Arte Portuguesa, pioneira em Portugal na sua área. Sofrendo sérios problemas de visão, foi nomeado conservador do recém-criado Museu de Belas Artes, em 1884, dedicando-se mais à teorização do ensino da arte, com especial atenção para a vertente do ensino industrial, no seguimento das correntes europeias da época.
A revista O Ocidente (que foi fundada por ele, como director artístico, por Caetano Alberto e Guilherme Azevedo, em 1878, e editada até ao ano da sua morte), faz jus às suas qualidades de ilustrador e gravador, reconhecido ainda hoje por historiadores da arte como José Augusto França.
Importa também sabermos de quem foi professor, ou a quem influenciou. Entre outros sabe-se de: Alberto de Souza, seu aluno na Escola de Belas Artes de Lisboa, aguarelista de interiores e de paisagem de indiscutível mérito;Roque Gameiro, seu discípulo na aguarela e companheiro de edições, como por exemplo o Albúm de Costumes Portugueses, de 1888, e Os Lusíadas, em 1900; Rafael Bordalo Pinheiro, também co-autor do Albúm de Costumes Portugueses, foi por ele influenciado enquanto caricaturista.
Virgínia Gomes (Conservadora do Museu Nacional de Machado de Castro)
Esther de Carvalho (Montemor-o-Velho, 1858 – Rio de Janeiro, 1884)
A 20 de Agosto de 1858, nasce, em Montemor-o-Velho, Esther Amélia da Costa Coutinho da Silva Carvalho, figura maior do teatro oitocentista português e brasileiro, filha do bacharel António Augusto Coutinho da Silva Carvalho, natural desta vila e também ele um homem do teatro cuja “fama e merecimentos chegaram mesmo a Lisboa, onde era muito conhecido e apreciado por alguns dos melhores artistas d’esse tempo”, e de Maria Amélia da Costa Côrte-Real, residentes em Montemor-o-Velho, na Rua ou Largo do Outeiro.
Com a morte da sua mãe foi educada pelas suas tias, na Cidade da Figueira da Foz, que nunca a contrariaram e eram as primeiras pessoas a enaltecerem-lhe os dotes físicos, tornando-a vaidosa e coquette. Quando tocava e cantava dentro de casa, com as janelas abertas, todas as pessoas que passavam na rua paravam a escutá-la com prazer.
Ainda tentou ser professora, mas “o seu espírito demasiado folgazão, o seu temperamento voluptuoso e a conduta libérrima que trilhara, prejudicaram-na nessa carreira. O orgulho que sentia ao ver-se adulada e requestada incessantemente, por ser elegante e formosa, despertou-lhe outro sentimento, o desejo impetuoso de vir a ser aclamada pelo seu valor, de ser aplaudida pelo seu talento, de, enfim, alcançar a glória.”
A sua estreia no Teatro da Trindade, na Cidade de Lisboa, “ao lado do Ribeiro e do Augusto”, a 31 de Março de 1880, na opereta “O Cão do Malaquias”, constituiu um autêntico sucesso. Os jornais dessa época fizeram-lhe os mais calorosos encómios, salientando, uns, que ela passara imediatamente à categoria de “primeira actriz do Trindade”. De papel para papel ia conquistando “mais agrado e firmando os seus créditos de actriz e cantora”. Assim, foi no “Orfeu no Inferno”, “Doutor Rosa”, “Rouxinol das Salas”, “Filha do Inferno”, “Dragões d’El-Rei”, “Estrela do Rei”, “Uff” (“caindo a peça, mas sendo ela aplaudida”), “Último Figurino”, “Filha da Senhora Angot”, “Três Dragões”, “Perichole”, “Chalet”, “Mascote” e “Dragões de Vilares”, a ultima ópera que cantou em Lisboa, “foram noites de gloria para a notavel e gentil artista”.
No entanto, fosse pela complexidade do seu feitio, pouco dado ao “viver pacato e metódico do Teatro da Trindade”, fosse pela sedução que o Brasil exercia sobre si, decide partir para o Rio de Janeiro. Sousa Bastos conta que Esther, logo que chegou ao Rio de Janeiro, lhe enviou um bilhete ao Teatro Príncipe Imperial, de que era empresário, dizendo: “Meu caro Sousa Bastos – Quer-me no seu teatro? – Esther”.
O que Esther de Carvalho “fez daí por diante é indescriptivel. Passava os dias na rua, de porta em porta, de estabelecimento em estabelecimento, fazendo propaganda em seu favor, lamentando-se, até formar um partido” que de imediato rivalizou com a “endiabrada” Pepa Ruiz, assim considerada pelas primeiras plateias de Lisboa, Porto e Rio de Janeiro, grande actriz de origem espanhola, geralmente conhecida pelos brilhantes papéis de opereta, revista e comédia que protagonizava.
A luta entre “Estheristas” e “Pepistas” chegou a preocupar seriamente a polícia, quase provocando uma revolução no Rio de Janeiro.
Entretanto torna-se empresária, com o actor Ribeiro e o maestro Alvarenga, no Teatro Recreio Dramático, mas, pela morte trágica dos seus sócios ficou sozinha a dirigir o teatro, num trabalho esgotante e infeliz, porque se tuberculizou. Sousa Bastos diz também que Esther morreu desgraçada “a ponto de lhe venderem o último móvel e o senhorio querer pô-la fora da porta, moribunda, quando até já cortara a última trança do cabelo para vender. E que bonitos cabelos ela possuía”.
Acaba por falecer a 15 de Janeiro de 1884, ficando sepultada ao lado do seu “companheiro” Ribeiro “num lindíssimo jazigo que tinham mandado fazer e não chegaram a pagar”, no Cemitério de São João Baptista, na Cidade do Rio de Janeiro.
O seu funeral constituiu uma extraordinária manifestação de pesar. Os seus admiradores cariocas, dedicados ao extremo, eram em tão elevado número que fundaram associações de recreio (Ateneu Dramático Esther de Carvalho e Sociedade Esther de Carvalho) e de socorros mútuos (Associação de Socorros Mútuos Memória a Esther de Carvalho) com o seu nome, em homenagem à sua memória, atitude que viria a ser seguida pelos seus conterrâneos quando decidiram atribuir o seu nome ao Teatro de Montemor (Teatro Infante D. Manuel) e a dois dos grupos de teatro amador fundados nesta vila – o Grupo Dramático-Beneficente Esther de Carvalho (1913) e o Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho (1970).
Mário José Costa da Silva (Licenciado em História e Mestre em História Moderna pela Universidade de Coimbra)
Bibliografia: A Liberdade (1891); BASTOS, António de Sousa, “Carteira do artista: apontamentos para a historia do theatro portuguez e brasileiro acompanhados de noticias sobre os principaes artistas, escriptores dramaticos e compositores estrangeiros”, Lisboa, Antiga Casa Bertrand - José Bastos, 1898. Existe edição facsimilada de Lisboa, Arquimedes Livros, 2007; BASTOS, António de Sousa, “Diccionario do Theatro Portuguez”, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1908. Existe edição facsimilada de Lisboa, Arquimedes Livros, 2006; “Commercio da Figueira (1880-1885)”; CONCEIÇÃO, Augusto dos Santos, “Terras de Montemor-o-Velho”, 2.ª edição, Montemor-o-Velho, Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, 1992; “Jornal do Centro” (2007); MELLO, A., “Ester de Carvalho”, in Occidente, n.º 189, 21 de Março de 1884; PINTO, Maurício Augusto Águas, “A Actriz Ester de Carvalho”, in Album Figueirense, Ano I, n.º 10 (Março de 1935), pp. 317-320; Silva, Mário, “Manlianense Ilustres II: Esther Amélia da Costa Coutinho da Silva Carvalho (1858-1884)”, in Revista Monte Mayor a terra e a gente N.º 7, Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, 2009; “Vida Regional” (1958-1960).
Manuel Jardim (Meãs do Campo, 1884 – Lisboa, 1923)
Artista de reconhecido valor, é considerado um dos renovadores da arte em Portugal nos inícios do século XX. A 6 de Novembro de 1884, em Meãs do Campo, nasce Manuel de Azambuja Leite Pereira Jardim, filho de Ernesto Pereira Leite Jardim, de Maria Carolina de Azambuja Ferreira e neto paterno de Manuel dos Santos Pereira Jardim, 1.º Visconde de Monte São, Par do Reino, Lente de Filosofia da Universidade de Coimbra e Presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Em 1911 casa com Letícia Leite Pereira Jardim Cabral de Moura Coutinho e Vilhena, sua prima. Morre prematuramente vítima de doença, na Cidade de Lisboa, a 7 de Junho de 1923. Sob a forte influência de Leopoldo Battistini, então professor na Escola Industrial de Avelar Brotero, e particularmente pelo seu quadro Sagramor, inspirado num poema do Doutor Eugénio de Castro, interrompe a sua carreira de estudante coimbrão e transfere-se para Lisboa. Encontra-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa com Francisco Franco, Henrique Franco, Eduardo Viana, Dordio Gomes, Saavedra Machado, Santa-Ritta e muitos outros alunos que haveriam de ser primeiras figuras nas artes nacionais. Continua os estudos obtendo novamente altas classificações e, durante os dois escolares, teria como professores e examinadores homens de talento como Alberto Nunes, Ernesto Condeixa, Henrique Lopes de Mendonça, José Luís Monteiro, Luciano Freire, Simões de Almeida e o seu próprio primo Henrique de Vilhena. Entre 1905 e 1910 frequenta Academia Julien, em Paris e tem por mestre Jean Paul Laurens. Em 1911 o seu quadro Le déjeneur é admitido ao Salon de Paris, expõe no Salon d’ Automne (1913), na Mostra dos Caminhos-de-ferro (1914), na Mostra dos Artistas Decoradores (1914), no IV Salão da Sociedade dos Desenhadores Humoristas (1914) e na exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes (1919).
Manuel Jardim segundo José Telo Morais:
(…) Quanto ao tema, a predilecção de Manuel Jardim incide, indubitavelmente, na figura feminina. (…) Contudo, as suas paisagens, de colorido rico, mas harmonioso, possuem igual valor plástico, bem como «o carácter e a força» que ele tanto ambicionava imprimir.(…)
(…) De interesse se revestem também os desenhos aguarelados a azul e rosa, a série de bailarinas exóticas, orientais, em atitudes inverosímeis e, finalmente, um pequeno grupo de quadros a óleo, de fundo ocre e de figuras a vermelho e azul, contornadas a negro bastante acentuado. Estas, as suas últimas criações que demonstram preocupações estéticas diferentes e parecem prenunciar novos rumos… (…)
(…) Cingindo o juízo de valor, objectiva e imparcialmente, ao que da sua obra se conhece e às lições que encerra, Manuel Jardim não pode, de facto, ser considerado o expoente dos pintores modernos portugueses. Mas situa-se, sem favor, entre os mais importantes. (...)
Fonte: Exposição Manuel Jardim (1884 – 1923) Exposição Comemorativa do 1.º Centenário do seu nascimento. Catálogo, Coimbra, Museu Nacional Machado de Castro, 1984, páginas 3 a 10.
Bibliografia: Fernando de Pamplona – Dicionário dos pintores e escultores ou que trabalharam em Portugal, Lisboa; Henrique Vilhena – A vida do pintor Manuel Jardim, 2 volumes, Portugália Editora, 1945 e 1948; José Augusto França – A arte e a sociedade portuguesa no século XX, Livros Horizonte, Lisboa; Saavedra Machado – O pintor Manuel Jardim, Alma Nova, Dezembro, 1923.
Afonso Duarte (Ereira, 1884 – Coimbra, 1958)
Poeta português (Ereira, Montemor-o-Velho, 1.1.1884 – Coimbra, 5.3.1958). Formou-se, em Coimbra, em Ciências Físico-Naturais (1913). Foi, ali, professor da Escola Normal e dedicou-se em especial à pedagogia do desenho; interessou-se por temas de etnografia e arte popular portuguesa. Manteve, ao longo da sua vida, intenso e caloroso convívio literário com sucessivas escolas e grupos, de que são testemunhos a colaboração na Águia e na «Renascença Portuguesa», as relações com os «Esotéricos», a passagem pela Presença e pela Seara Nova, e com os poetas do «Novo Cancioneiro». A sua obra poética acusa esse permanente esforço de renovação, mantendo-se, todavia, fiel à inspiração entranhadamente portuguesa e tradicional, aos motivos da terra, da vida animal, do povo e da lide agrária, das crenças e mitos seculares, sempre rica de poder metafórico e alusivo, evoluiu, no entanto, progressivamente, para uma forma mais despojada e epigramática, e o ímpeto genesíaco, velado por uma religiosidade difusa e melancólica, que transborda nas primeiras obras, contém-se e interioriza-se, o tom torna-se mais cerebral e moralístico, até dar numa sabedoria desenganada e algo sarcástica ou num denso e sentencioso comentário profético do mundo contemporâneo.
Obras: Cancioneiro das Pedras, Lisboa, 1912; Tragédia do Sol-Posto, Coimbra, 1914; Rapsódia do Sol-nado, seguida de Ritual do Amor, Porto, 1916; 7 Poemas Líricos, Coimbra, 1929 (é a reedição dos três livros anteriores, alterados na estrutura, acrescida de novos poemas); Ossadas, Lisboa, 1947; Post-scriptum de Um Combatente, Coimbra, 1949; Sibila, Coimbra, 1950; Canto da Babilónia, Coimbra, 1952; Canto de Morte e Amor, Coimbra, 1952; Obra Poética, Lisboa, 1956 (é a compilação de toda a sua obra poética e inclui um novo livro, O Anjo da Morte e outros Poemas; uma nova edição, Lisboa, 1974); Lápides e outros Poemas, Lisboa, 1960.
Fonte: Esther de Lemos, «Afonso Duarte», in Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, Volume IX, Editorial Verbo, Lisboa/ São Paulo, 1999, página 979
Angelino Gomes Ferrão (Arazede, 1909 – Arazede, 1994)
Nasceu em Arazede a 26 de Outubro de 1909 e com pouco mais de 6 anos tocou pela primeira vez na “Sociedade Filarmónica Arazedense”. O episódio merece ser do conhecimento público: Durante um ensaio, tendo verificado que o executante de flautim não estava presente, resolveu “de moto próprio” ocupar o lugar. O espanto foi geral. O maestro de então, José Marques Rolhas, interrompe o ensaio e proclama mesmo: “a execução foi perfeita”. Apesar dos elogios de que foi alvo, a recompensa no dia seguinte foi severa: seu pai, Alfredo Gomes Ferrão, Farmacêutico, co-fundador da Filarmónica e, também ele, excelente músico, não deixou de lhe aplicar o correctivo da praxe por ter ousado tomar tal iniciativa sem consentimento paternal. Mas as pressões foram tantas e o entusiasmo tão generalizado que seu pai não teve alternativa: a incorporação na Banda foi uma realidade e, até hoje, nunca ninguém foi executante da Banda de Arazede com tão tenra idade.
Aos 27 anos dirigiu a “sua” Banda pela primeira vez. Estava-se em 1937 e a festa era em Vila Franca. O regente, Sargento Gomes, não pôde comparecer e a opção foi óbvia e consensual: Angelino Ferrão. Começava assim a sua dedicação de mais de setenta anos à Academia Musical Arazedense (AMA) como regente, metade dos quais sem qualquer tipo de remuneração, por mais pequena que fosse.
A regência das Filarmónicas “Boa União Alhadense” e “10 de Agosto” da Figueira da Foz também esteve a seu cargo, mas sempre em acumulação com idêntica responsabilidade na AMA.
Em 1931, fundou a Orquestra “Betty Boop” e, para além de Director Artístico, é executante de saxofone tenor, acompanhado por Zé Amaral ao saxofone alto, Carlos Carvalho ao trompete, José Baía à viola e Humberto Baía na bateria. Mas é em 1952 que funda aquela que vai ser uma referência na música ligeira dançável, a “Orquestra Academia”, que virá a actuar nos palcos mais prestigiados da Região, onde se incluem o Casino da Figueira da Foz e o Baile de Gala da “Queima das Fitas” de Coimbra. Além de seu director musical, era executante de contrabaixo de cordas (rabecão), violino, trombone, acordeão e órgão. Na composição desta orquestra, no seu período de maior êxito, era acompanhado por Zé Parente (saxofone alto), Augusto Freitas (saxofone tenor e clarinete), Manuel Parente (trompete e contrabaixo), António Rocha (trombone), Raul Ferrão (contrabaixo e vocalista) e Carlos Alberto Ferrão (bateria e guitarra eléctrica). Muitos outros elementos passaram por esta orquestra durante a sua existência, entre os quais se podem citar, Joaquim Peixoto, António Caceiro, António Albano, Francisco Labela, Loríval Parente, Elmano Paredes, David Jorge, José Lourenço ou Carlos Freitas…
Integrou o Rancho Regional “Os Esticadinhos” de Cantanhede tendo sido, além de executante de viola, violino e saxofone tenor, seu director musical.
Como professor de música, leccionou imensos anos no Colégio Infante de Sagres de Cantanhede, na Secção de Cantanhede do Liceu Nacional da Figueira da Foz, nas Casas do Povo da Tocha, Seixo, Cadima e Portela e, sempre, sempre, na AMA. Ministrou, também, inúmeras aulas particulares individuais e colectivas na sua própria residência.
Como compositor, é autor de centenas de melodias (e em muitos casos também da letra) e orquestrações para filarmónicas, orquestras, grupos folclóricos e até para operetas e revistas, das quais se destaca a colaboração com a Sociedade de Instrução Tavaredense.
Mas se a Música é a arte em que mais se destacou, não é irrelevante a sua acção em outras tantas actividades como sejam: O teatro, onde foi encenador, cenógrafo e, até mesmo, carpinteiro de cena. Imaginou e pintou cenários, sobretudo na AMA; O desenho, onde deixou registado o seu traço em vários cartazes anunciadores de filmes, peças de teatro ou nas inúmeras e espontâneas caricaturas (algumas feitas em guardanapos ou toalhas de papel, tal era o seu “obsessivo” comportamento em desenhar), muitas das quais publicadas em livros de curso. Também a arquitectura, expressa em edifícios particulares, alguns dos quais ainda podem ser apreciados, como as ex-habitações de Manuel Costa Júnior, na Rua Manuel Joaquim Macedo Sotto Mayor, de Aurélio Soveral da Rocha no Casal do Gaio, de Adão Marques da Cruz, na Rua Furriel Fidalgo ou, ainda, a Padaria Salvador ou os edifícios da AMA e da Junta de Freguesia de Arazede, revelam o seu sentido de estética urbana; O futebol, onde após representar a Associação Académica de Coimbra, enquanto estudante e durante quatro épocas (1928/29 a 1931/32), funda em Arazede o primeiro grupo de futebol, em parceria com António Ferrão (Tony) e Alfredo de Oliveira. Era o “Arazede Sporting Club”, que foi o embrião do “Arazede Clube Alegria” (ACA) que mais tarde, já nos anos 60 do século passado, passaria a “Académico Clube Arazedense”; A nível autárquico, onde ocupou, em períodos distintos, os cargos de Regedor e de Presidente da Junta de Freguesia de Arazede.
Viria a falecer a 26 de Fevereiro de 1994 sem ter possibilidade de realizar um dos seus últimos sonhos: estar presente na comemoração do centenário da Filarmónica de Arazede. Em cima da sua secretária de trabalho ficava inacabada a sua última obra: a marcha “Centenário”. A doença não lhe permitiu passar para o papel a melodia que fervilhava na sua cabeça.
Nasceu para a música em Arazede e com a música no pensamento se despediu, também em Arazede.
Foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural do Concelho de Montemor-o-Velho em 8 de Setembro de 1996.
Fonte: Academia Musical Arazedense (2009), “Comemorações do 1.º Centenário do nascimento de Angelino Ferrão”, Montemor-o-Velho: Gutenberg Artes Gráficas, Lda.
António Alves Barbosa nasceu a 24 de Dezembro de 1931, em Fontela, Figueira da Foz, vindo para Montemor aos 3 anos de idade.
Começou a correr, oficialmente, em 1950, na categoria de amador-júnior tendo conquistado o título nacional nessa categoria. Ainda nesse ano passou a amador-senior e depois a Independente para se estrear na Volta a Portugal tendo acabado em 19º lugar.
Ganhou três vezes a Volta a Portugal –1951, 1956 e 1958.
Campeão Nacional de Fundo (estrada) em 1954, 1955 e 1956.
Campeão Nacional de Velocidade (pista) em 1954,1955 e 1959.
Campeão Nacional de Ciclo-cross em 1961.
Participou na Volta a França em 1956, 1957, 1958.
Participou na Volta a Espanha, 1957, 1958 e 1961.
Participou na Volta à Andaluzia em 1961.
Participou no Paris-Nice em 1957 e 1961.
Foi jornalista, comentador de televisão, até assumir a missão de Director Técnico Nacional de Ciclismo até ao ano 2000.
Em 1958 foi protagonista do filme “O Homem do Dia” com a actriz Maria Dulce.
Foi agraciado em 1990 pelo Governo Português com a Medalha de Mérito Desportivo.