Em Montemor-o-Velho, as comemorações do 44º aniversário do 25 de Abril de 1974 contaram com uma forte participação popular e foram repletas de música, poesia, cultura e muito convívio.
A Revolução dos Cravos voltou a sair à rua e, depois do hastear da bandeira ao som do Hino Nacional executado pela AFUV - Associação Filarmónica União Verridense, na Praça da República, realizou-se a Caminhada da Liberdade que reuniu cerca de 300 participantes.
Na ocasião e antes de iniciar o percurso que passou pelo Centro Náutico, pelo Castelo e pela paisagem natural que circunda a sede do concelho, o presidente da Câmara Municipal, Emílio Torrão, saudou todos os presentes e desejou “uma boa caminhada pela liberdade, por Portugal e por Montemor-o-Velho”.
Para retemperar forças, os participantes reuniram-se num animado almoço de confraternização na ACDRS de Quinhendros.
O Dia da Liberdade continuou a ser celebrado e a sessão solene da Assembleia Municipal de Comemoração do 44.º Aniversário do 25 de Abril de 1974, nos Paços do Concelho, foi o momento escolhido para lembrar as conquistas de Abril e apontar caminhos para o futuro.
Na sessão que que foi pontuada por diversos momentos musicais alusivos à efeméride a cargo dos Sax & Companhia, o presidente da Assembleia Municipal, Fernando Ramos, referiu: “Se a música foi essencial na Revolução de 25 de Abril de 1974, nada melhor que integrá-la na Sessão Solene”.
Ao fazer referência à importância da Educação e à inclusão de eventos ligados ao 25 de Abril dirigidos aos alunos do concelho, Fernando Ramos desafiou os presentes a participar numa atividade que consistiu em seguir determinadas instruções de dobragem e corte de uma folha de papel.
Ao constatarem que o resultado foi diferente para todos, o Presidente da Assembleia Municipal sublinhou: “Se a instrução que é dada corresponder ao processo de ensino/aprendizagem que todas as crianças têm ao longo da sua vida de Estudante e a folha corresponder ao que o nosso sistema de educação reconhece como ´aprovado’, então o que se obtém é resultado da liberdade que cada um de nós tem”.
Com algum humor à mistura, referiu: “Mas este momento que acabamos de viver também serviu para outra coisa. Creio poder afirmar que, pela primeira vez, vão poder dizer que participaram numa Assembleia Municipal comemorativa do 25 de Abril e não foi só a ouvir discursos e bater palmas”.
Ao longo da sessão solene da Assembleia Municipal, as diversas intervenções feitas pelos deputados municipais das várias bancadas e por Dulce Ferreira, vereadora da coligação “Por Montemor Tudo e Sempre” – PPD/PSD. CDS/PP lembraram o espírito de Abril, as suas conquistas, deixando, igualmente, um olhar sobre a atualidade internacional, nacional e local.
Numa intervenção dedicada à igualdade de género, o presidente da Câmara Municipal, Emílio Torrão traçou, com recurso a muitos exemplos, a evolução da sociedade portuguesa desde o 25 de Abril de 1974.
“Em Portugal a cultura do Estado Novo, de tão eficaz que foi a sua propaganda e interesses dos “Chefes de família”, haveria de perdurar até aos dias de hoje, numa sociedade que em muitos aspetos tende a manter tal mentalidade, que ainda é transmitida de Pais para Filhos em muitas situações da vida e da família. Ainda perduram silenciosamente na organização familiar muitos conceitos de família e de modelos de organização social e laboral, assimiladas de geração em geração, numa tradição moral das comunidades rurais e urbanas, que remontam aos ensinamentos do Estado Novo”, esclareceu.
Para o autarca montemorense, “Na realidade muito evoluiu na igualdade de género e de oportunidades em Portugal após a revolução de 25 de Abril de 1974, mas a cartilha da educação e os valores propagandeados até à exaustão por Salazar e seus acólitos do Estado Novo, ainda contamina muitas mentalidades deste país, numa casa ao lado da nossa, num amigo ou amiga perto de si. É como uma tradição oral que passa silenciosamente de geração em geração por vivências e experiências familiares”.
“Como já disse em anterior discurso ‘A Revolução dos Cravos devolveu-nos a democracia, a igualdade, liberdade e fraternidade, mas não nos deu cultura de modernidade, maturidade social e comunitária para concretizar o princípio da igualdade consagrado na constituição desde o Estado Novo. Não estão, nesta data, lá escritas as exceções, mas perduram ainda, os preconceitos e muitos conceitos torpes na nossa sociedade, nas nossas comunidades, no trabalho e em muitos sectores de atividade das nossas vidas”, reforçou.
Ao reiterar confiança no futuro, Emílio Torrão, sublinhou: “Eu acredito num Portugal diferente, numa nova ordem social, numa revolução de mentalidades, que se renova todos os anos após Abril de 1974, que verá florescer e disseminar um novo conceito de família, de sociedade democrática, que afirme a mulher pela diferença mas em igualdade de género!”
Nos Paços do Concelho, o momento comemorativo terminou com a inauguração da exposição sobre medalhística alusiva ao 25 de Abril com espólio da Casa do Povo de Abrunheira.